sábado, 21 de março de 2015

NAMORO CATÓLICO - 2ª parte: FINALIDADE DO NAMORO


O Reverendíssimo Padre Lodi diz que a finalidade do namoro é “o conhecimento da alma do outro.” Esse conhecimento da alma é conhecer as qualidades e defeitos, naturais e sobrenaturais, do outro, bem como conhecer qual é o “ideal” de vida do outro. Todavia, as condições para que um jovem e uma jovem possam construir com segurança um lar católico são quatro:

1. Uma grande estima mútua;
2. Uma profunda simpatia mútua;
3. Uma profunda confiança mútua;
4. Acordo quanto ao ideal.


A finalidade do namoro deve ser verificar a existência dessas quatro condições ou desenvolvê-las. O que segue é baseado na obra do Padre François Dantec, Fiançailles Chrétiennes.

1. Estima mútua.
A estima é reconhecer no outro certas qualidades e certos valores reais e apreciar de modo particular essas qualidades e esses valores. Essa estima deve ser, portanto, motivada, ela deve ter um motivo real e ser séria, e não ser baseada em impressões ou sentimentos. Essa qualidade e esses valores nada mais são do que as virtudes. Eis aqui o verdadeiro título de nobreza e o tesouro mais precioso para que um lar digno seja fundado. Antes de escolher o cônjuge, é preciso prestar atenção nas suas qualidades morais, naturais e sobrenaturais. Se há um defeito grave e de difícil correção no outro, não se deve hesitar em romper o relacionamento. Se, ao contrário, constata-se a presença das virtudes no outro, a estima pode ser dada ao outro. Essa estima é o primeiro passo para o verdadeiro amor entre os que querem se casar.

2. Simpatia. 
A simpatia aqui quer dizer uma certa inclinação ao outro. Em geral, ela decorre da estima de que falamos acima. Assim, também a simpatia deve ser motivada. Todavia, pode haver casos em que há estima sem que haja a simpatia. Os sinais dessa simpatia são o desejo de rever o outro, a alegria de se encontrar e de conversar juntos, ter o pensamento inclinado para o outro, preocupar-se com os problemas e preocupações do outro, etc… Convém deixar claro que essa simpatia não é uma atração sensível ou física. É necessário para noivar e casar que haja atração entre os dois, mas uma atração como a simpatia que descrevemos acima. Não é necessário que haja uma atração física, sensível, que faça o coração palpitar. Isso é de uma importância prática extrema, pois nada há de mais instável e variável que a sensibilidade e essa inclinação física. A pretensão de construir o lar sobre uma base tão instável é viver na ilusão e construí-la sobre a areia. O casamento vai desmoronar. O matrimônio precisa ser baseado na estima motivada e na simpatia que deriva dessa estima, em virtude das qualidades morais reais do outro. Está claro que a inclinação física e sensível não é em si um mal e pode ser um bem, desde que não levem a pessoa a tomar decisões baseadas nelas. Se essa inclinação física e sensível está ausente, mas estã presentes a estima, a simpatia e as outras condições de que falaremos, os jovens podem se casar com confiança. Se a simpatia mútua está ausente, é muito imprudente casar. Essa ausência de simpatia pode acontecer mesmo entre um jovem e uma jovem católicos e virtuosos. Seria muito imprudente casarem sem ter simpatia um pelo outro ou tendo antipatia pelo outro. Também seria imprudente casarem se houvesse alguma espécie de repugnância física pelo outro. A graça baseia-se na natureza. Se no campo natural existem fatores que desaconselham o matrimônio, seria difícil que a graça suprisse tais problemas. Qualquer que seja a causa dessa antipatia, consciente ou inconsciente (incompatibilidade de temperamento, diferença de idade, de cultura, etc.), trata-se de uma contra-indicação seríssima ao casamento, pois seria expor-se mais tarde a provações muito frequentes e muito fortes, com risco para o casamento.

3. Completa confiança mútua.
Além da estima e da simpatia, é preciso que haja confiança, para que haja um casamento feliz. É preciso que a outra pessoa seja digna da confiança, que seja possível ter certeza quando ela diz algo. Essa confiança é também ter certa segurança e estabilidade, fundada nas qualidades reais do outro. Além disso, essa confiança é ter por certo que é possível se apoiar no outro para enfrentar as dificuldades, as provações, os sofrimentos. A vida matrimonial é completamente distinta da vida anterior: o cônjuge já não está mais só. No melhor e no pior, na riqueza e na pobreza, na saúde e na doença, é preciso ter a certeza de poder contar com o outro. Para casar, os namorados/noivos devem ter essa confiança profunda no outro. Essa confiança é motivo de muita força e alegria para a vida do casal. Essa confiança mútua tem também o sentido de que um cônjuge se confia ao outro, quer dizer, que não guarda segredos para o outro. Claro que há graus e etapas nessa abertura mútua. O essencial é que um esteja à vontade com o outro (no bom sentido), para confiar ao outro tudo o que vale realmente a pena e para contar tudo o que seria desleal ou imprudente esconder.

4. Acordo quanto ao ideal. 
Um ponto fundamental para escolher o futuro cônjuge é o acordo sobre o ideal. Sem essa condição essencial que é esse acordo quanto ao ideal, a futura família não tem praticamente qualquer chance de formar um lar verdadeiramente cristão e verdadeiramente feliz no sentido cristão de felicidade. Sem um considerável acordo quanto às principais questões da vida, seria impossível manter a união de corações e de almas, união necessária para que haja verdadeiro amor cristão.

A. O que não é esse acordo. Esse acordo não é partilhar necessariamente as mesmas ideias sobre todas as coisas nem ter o mesmo gosto em todos os domínios. Esse acordo não suprime, portanto, diferenças que são legítimas e, por vezes, providenciais. Esse acordo não significa uma uniformidade total ou a supressão de personalidades. Também não é necessário que exista, desde o começo, um acordo perfeito das ideias e sobre todos os detalhes da vida prática.

B. O que é esse ideal? Esse ideal é uma certa comunhão de visão e de juízo quanto ao sentido da vida e sobre os grandes problemas da vida conjugal. Na prática, esse acordo consiste em saber se as duas partes aceitam a doutrina católica em geral e sobre o casamento em particular. Para se interrogar sobre esse acordo e poder avaliar a sua existência, é preciso que os namorados se perguntem se são verdadeiramente católicos ou não.

C. Acordo quanto ao sentido cristão da vida. Como fundamento, os que pretendem casar devem estar de acordo quanto ao sentido cristão da vida. O sentido cristão da vida é dado, antes de tudo, pela profissão firme da fé, com plena aceitação dos ensinamentos de Cristo e da Igreja. Esse acordo consiste em que ambos saibam que essa vida é tão somente uma passagem para a vida futura, que fomos criados para sermos felizes no céu, depois de termos conhecido, amado e servido a Deus aqui na terra. Esse acordo consiste em buscar em primeiro lugar o reino dos céus, evitando todo pecado como o maior mal que existe. Além disso, esse acordo deve ter em vista também a busca da prática das outras virtudes, além da fé, da esperança e da caridade: a humildade, a paciência, a fortaleza, a pureza… Esse acordo deve consistir no fato de reconhecer que essa vida é um combate, em reconhecer que somos discípulos de um Mestre que morreu crucificado e que nós não somos maiores que Ele. Esse acordo deve consistir no reconhecimento de que somente a verdadeira religião revelada por Deus pode nos salvar e trazer a solução para os nossos problemas. Esse acordo consiste na disposição firme de permanecer fiel a Cristo e à Igreja, apesar de todos os desvios e ciladas do mundo. Esse ideal sobre o qual os namorados devem estar de acordo é, em resumo, a conformidade em todas as coisas com a vontade de Deus.

D. Acordo quanto ao sentido cristão do casamento. Se o acordo deve dizer respeito a todas as questões importantes da vida, é evidente que ele tem que se estender especialmente ao casamento. Basta refletir um pouco e superficialmente para chegar à conclusão que a falta de acordo nesse domínio levará a um lar infeliz. Não deixar jamais passar esse ponto, como se pudesse ser resolvido depois. Depois, será tarde. É preciso perguntar-se seriamente, com lucidez e coragem, se o acordo existe quanto a esse ponto. O acordo deve ser sobre:

i. O dever de fecundidade. Estão de acordo quanto àquilo que é o primeiro dever do matrimônio? Estão de acordo com a doutrina católica quanto à generosidade no número de filhos? Estão de acordo quanto ao fato de que é pecado mortal evitá-los pelos denominados métodos artificiais? Estão de acordo que os métodos naturais só podem ser usados sem culpa se houver uma causa grave para isso?

ii. Dever de educar catolicamente os filhos. Estão de acordo no que toca ao grave dever de assegurar a educação católica dos filhos?

iii. Dever de amor mútuo. Estão de acordo quanto ao sentido cristão desse amor mútuo, que é, antes de tudo, um amor derivado da caridade, que quer o bem do outro e age para o bem do outro, sobretudo para a salvação dele? Estão de acordo em sacrificar bens materiais, para assegurar os deveres matrimoniais, se necessário? Estão convencidos de que a vida comum é a regra e de que uma vida separada só pode ser cogitada em função de razões excepcionalmente graves?

iv. Dever de fidelidade e natureza indissolúvel do matrimônio. Não custa lembrar esses dois pontos. Estão de acordo que o matrimônio é uma união exclusiva entre eles e que essa união não pode ser desfeita, a não ser pela morte de um dos cônjuges?


E. No caso de desacordo grave. Se um acordo suficiente não existe – e não há nenhuma esperança séria e fundada de que ele possa existir – é preciso tirar as conclusões que se impõem. Essa esperança diz respeito ao tempo de namoro e não ao tempo de casado. Seria enormemente imprudente casar esperando que esse acordo venha a existir, seria um erro quase certamente fatal. No caso de desacordo grave quanto ao ideal, é preciso cortar imediatamente as relações que levariam certamente a um casamento infeliz e cheio de problemas de consciência. Esse desacordo grave pode ser religioso porque o outro é anticristão, ateu, indiferente à religião, ou porque ele é cristão, mas não é católico. Nesse caso, o desacordo é evidente. Esse desacordo existe também quando o outro é um católico profundamente medíocre, colocando toda a sua felicidade aqui na terra, recusando todo esforço sério moral e espiritual, fechando-se aos chamados da graça. Esse católico profundamente medíocre é aquele que se tornou incapaz de compreender e de apreciar todas as formas de sacrifício, de grandeza e de desapego dos bons cristãos. Trata-se do cristão tíbio. Ele pode ter certas qualidades humanas, talvez brilhantes, mas seu cristianismo não tem praticamente nenhuma influência em sua vida. Ele não vê as coisas com os olhos da fé. É preciso prestar muita atenção nessa mediocridade ou tibieza, que muitos não levam realmente a sério na hora de tomar uma decisão. Diante da mediocridade do outro, é preciso romper a relação. A infelicidade seria certa, bem como os problemas de consciência e a falta de um amor realmente cristão. Tais conselhos podem parecer duros, e eles o são, de fato. Todavia, deixar de dizer essas verdades salutares seria servir muito mal as almas, seria uma aparente caridade contrária à verdadeira caridade.

F. No caso de acordo. Se esse acordo é praticamente completo e se as outras condições estão presentes (estima, simpatia, confiança), trata-se de uma graça imensa. É normal e desejável que busquem tal acordo e que não negligenciem nada para chegar até ele. Esse acordo será, normalmente, a garantia de um lar verdadeiramente feliz, radioso. Com frequência, porém, esse acordo não será completo, pois talvez o outro não tenha a generosidade desejada. Todavia, essa falta de generosidade nunca pode chegar ao ponto da mediocridade ou da rejeição da fé católica. Além da fé e de um certo fervor, é preciso que se exija também um mínimo de virtudes naturais, tal como a lealdade, a sobriedade, a retidão, a coragem, a mansidão, etc… Com isso, embora não haja um acordo completo, é possível esperar um casamento em que os cônjuges possam pouco a pouco se santificar, a não ser que a parte menos católica seja aquela com a personalidade mais forte. Para casar sem ter esse mínimo de acordo sobre o ideal seria preciso haver razões bem graves, o que é raro.

Pe. Daniel Pinheiro, IBP

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