sexta-feira, 10 de abril de 2015

A autoridade de Deus na família...

"Na família está o homem revestido da autoridade de Deus, como chefe. Não foi o homem criado para a mulher, mas a mulher para o homem, afirma S. Paulo. Nunca estas palavras significaram escravidão para a esposa, que é igual ao esposo em dignidade e em todos os direitos pessoais. Entretanto na família ela deve respeito e obediência ao homem, constituído pelo Senhor chefe responsável pelo rumo do lar. Mãe e filhos têm direito de encontrar no pai um braço que os ampare, sustente e guie com firmeza. Numa igreja de Roma vem expresso este pensamento, representando certo baixo relevo um esposo mártir que olha para o céu, enquanto a esposa mártir olha para o esposo. Bem escrevia Milton: «Ele para Deus somente, ela a Deus por ele.»"

Livro: Perante a noiva

terça-feira, 7 de abril de 2015

OBRIGAÇÕES DOS MARIDOS

1. Amar a sua mulher, como Jesus Cristo a Igreja.
2. Não desprezá-la, porque é companheira inseparável.
3. Dirigi-la como inferior.
4. Ter cuidado dela, como guarda de sua pessoa.
5. Sustentá-la com decência .
6. Sofrê-la com toda paciência.
7. Assisti-la com caridade.
8. Corrigi-la com benevolência.
9. Não maltratá-la com palavras nem obras.
10. Não fazer nem dizer coisa alguma diante dos filhos, ainda que pequenos, que possa ser para eles motivo de escândalo.

O caminho reto, Santo Antônio M. Claret

sábado, 28 de março de 2015

Dar-lhe-ás teu coração

Tua mulher precisa sentir-se protegida. Amparada não só pelos teus braços, mas também pela tua solicitude. Deverás engenha-te em lhe agradar, mesmo se tiveres de sacrificar alguns dos teus hábitos de rapaz. Provarás o teu amor renunciando, por ela, ao que lhe desagrada. Mostra à tua mulher que aprecias o que ela faz por ti. Procura animá-la um pouco; procura os meios de lhe ser agradável, faze-te com frequência está pergunta: "Que pensará ela disto?" Sê atencioso e afetuoso, mesmo depois da lua de mel, mesmo vinte anos após o casamento. O seu sorriso, respondendo ao teu sorriso, será a mais bela das recompensas.

Livro: A serviço do amor

CONCLUSÃO DA EXPOSIÇÃO SOBRE A CASTIDADE NO NOIVADO


  Tais são as regras que regem a castidade no noivado cristão.
 Elas podem parecer severas. De fato, elas o são, sobretudo se as comparamos com a devassidão desavergonhada dos costumes de nosso tempo.
  No entanto, esta severidade é tão somente a expressão da prudência, e da prudência mais elementar.

  E se todos os noivos tivessem a sabedoria de observá-las, eles evitariam um grande número de tentações, tribulações e quedas, de pecados e de misérias, que infelizmente somos levados a constatar e deplorar em muitos e muitos casos.

  Mais ainda, todos aqueles que aceitarem conformar sua conduta a essas regras, encontrarão aí recompensas inestimáveis: eles verão crescer entre eles o amor juntamente com o respeito, a estima e a confiança. Eles terão um pelo outro uma profunda admiração e gozarão juntos das alegrias tão puras e tão altas que o combate vitorioso da pureza traz a todas as almas de bem.

  Enfim, tudo isso atrairá sobre suas almas graças preciosas no presente e no futuro.
E, um dia, eles descobrirão que nada terá contribuído tanto à edificação de seu amor cristão quanto a luta travada em conjunto, com a graça de Deus, pelo respeito absoluto da castidade durante o noivado.

quinta-feira, 26 de março de 2015

NAMORO CATÓLICO - 4ª parte: MEIOS PARA GUARDAR A CASTIDADE NO NAMORO/NOIVADO


Capítulo do Livro Fiançailles Chrétiennes (1956), do Padre François Dantec.

  Os noivos devem saber que a castidade nem sempre é fácil durante o noivado, sobretudo quando este é demasiadamente prolongado. Todavia, eles devem também estar convencidos de que esta castidade lhes será sempre possível, com a ajuda da graça de Deus, com a qual eles poderão sempre contar.

  Para guardar a castidade durante todo o noivado, lhes será preciso cumprir certas condições e pôr em prática certos meios sem os quais eles só poderiam chegar a lamentáveis fracassos.

• As condições necessárias.

  Antes de mais nada, eles devem ambos ter o sentido, a estima e o amor pela castidade. E devem saber, ainda, que Deus nunca pede o impossível… e que, a todas as almas sinceras e que rezam, Ele dá a força de realizar o que Ele ordena.
Porém, por causa da força dos impulsos carnais, a virtude da castidade só pode ser mantida sob uma dupla condição: primeiramente uma atitude de esforço e de luta; em seguida ­- e sobretudo – uma vida sobrenatural intensa alimentada pela oração e pela recepção frequente da Penitência e da Eucaristia.

• Um esforço pessoal.

  O esforço será primeiramente pessoal e deverá portar não somente sobre o domínio do instinto sexual e sobre a virtude da castidade, mas também em todos os planos e sobre todas as virtudes. Em particular, será preciso dar ao espírito de sacrifício e de mortificação o lugar que lhe é sempre devido numa vida seriamente cristã.

• Um esforço em conjunto.
  A este esforço pessoal deverá se juntar um esforço conjunto, especialmente por ocasião dos encontros. Os noivos devem não somente evitar tudo o que constitui uma falta contra a castidade, mas eles devem guardar entre eles, sempre e onde quer que estejam, uma certa reserva, uma certa modéstia, um verdadeiro pudor que os preservará de muitas tentações e de muitas dificuldades.
Eles deverão mostrar uma verdadeira simplicidade ou franqueza mútua no combate pela castidade. Que cada um diga com clareza ao outro aquilo que constitui para ele (da parte do outro) uma ocasião de tentação e de dificuldade. A experiência mostra que esta simplicidade mútua – que infelizmente é rara – é para os noivos uma ajuda muito importante para a salvaguarda da pureza.

• A noiva, guardiã da castidade.

  Neste esforço em comum dos noivos para garantir o domínio sobre suas sensibilidades, a moça deve saber que ela tem o papel principal. Assim como ela pode causar tentações, fraquezas e quedas para seu noivo, mostrando-se imprudente, imodesta e provocante, ela pode também ajudá-lo e dar-lhe apoio, se ela souber ser o que ela deve ser. Lembrando-se do que dissemos acima sobre as diferenças consideráveis que separam o homem e a mulher no campo da excitabilidade sexual, a noiva sempre deverá considerar-se como a guardiã e a principal responsável da castidade do noivado. Longe de querer ser para seu noivo uma fonte de tentações e provocações inconsideradas, ela desejará ser para ele uma companheira delicada com a qual ele poderá contar sempre em todas as ocasiões e à qual ele será sempre muito grato pelo auxílio que ela lhe terá prestado no rude combate da pureza.

• Indicações práticas para os encontros

  Em toda a medida do possível, os noivos não devem se isolar num lugar onde eles não possam ser surpreendidos de um momento para outro. Além disso, nunca se desaconselharia demasiado aos noivos cristãos os divertimentos (bailes, teatros, cinema) que arriscam provocar em demasia os sentidos e tornar muito mais difícil o combate pela pureza. Da mesma forma, eles evitarão as viagens, os passeios prolongados, sobretudo se eles fossem fazê-lo sozinhos.

  É preciso também recusar um costume que tende a se espalhar em certos meios cristãos: a estada dos noivos sob o mesmo teto. Práticas como esta são extremamente perigosas (a experiência o prova), e devemos rejeitá-las em nome da prudência cristã.

  No que diz respeito à frequência e à duração dos encontros, não é possível dar regras precisas que seriam válidas para todos.
  Se um ou outro tiver, por causa dos encontros muito frequentes, certas tentações excepcionais ou certo enfraquecimento de suas forças morais e espirituais, isso seria um sinal que deveria fazer os noivos espaçarem mais os encontros.
  Todavia, visitas quotidianas e prolongadas devem ser consideradas como excessivas e perigosas. Ao se tratar de visitas mais prolongadas (algumas horas), seria conveniente limitá-las a uma, ou no máximo duas por semana.
  Os encontros solitários e prolongados, sobretudo à noite, são desaconselhados.

  O melhor lugar para o encontro é, geralmente, o meio familiar. Não somente por que neste ambiente o risco de exposição às tentações vindas de certas imprudências é menor, mas também porque no meio familiar aprenderão a se conhecer melhor, observando o comportamento do outro em relação aos seus…

  “Desconfiemos daqueles que, sob o pretexto de uma maior intimidade, querem esquivar-se do olhar dos parentes e que se sentem bem somente quando estão afastados daqueles que mais poderiam protegê-los. Se um rapaz ama verdadeiramente uma moça, ele facilmente aceitará vê-la em seu ambiente natural, onde ele poderá conhecê-la melhor.”

  “Quanto às frequentações habituais em restaurantes, na rua, em parques públicos, no automóvel, ou, o que é ainda mais deplorável, no quarto, não se poderia tolerá-las. Trata-se de ocasiões próximas demais de pecado para serem aceitas por pessoas sérias.”

  “Se eles não podem se encontrar sem estar de fato expostos a uma ocasião próxima de pecado, é preciso que eles façam todos os sacrifícios necessários para salvar, antes de tudo, suas almas”.

  Com o fim de não se expor a tentações violentas (e inúteis), os noivos evitarão entre eles todas as familiaridades e as atitudes particularmente perigosas: desta forma, eles não devem nunca se deitar um perto do outro nem se sentar no colo um do outro.
Enfim, talvez não seja inútil apontar que é nos momentos da despedida que eles deverão ser particularmente vigilantes e reservados, pois é então que a tentação se mostra em geral mais forte.

  Como regra geral, saibam os noivos que a castidade se torna mais e mais difícil na medida em que o noivado se prolonga e na medida em que eles se aproximam do casamento. Este será, portanto, um motivo a mais para “vigiar e orar” com maior fervor. Talvez seja então o momento de fazer encontros menos frequentes e mais reservados.

  Em meio às suas dificuldades e lutas, os noivos hão de invocar a Santíssima Virgem Maria: não é Ela a Mãe da Pureza e a Mãe do belo amor?… Eles recorrerão juntos a Ela, quando se encontrarem, e também separadamente.
Eles serão mais do que nunca fiéis à prática regular da confissão. Juntos ou separadamente (de acordo com as circunstâncias), eles deverão buscar com frequência, na Santíssima Eucaristia, as energias sobrenaturais que em vão se buscaria obter longe dela. É desta forma que eles alcançarão de Deus o suplemento de força para permanecerem sempre puros.

quarta-feira, 25 de março de 2015

NAMORO CATÓLICO - 3ª parte: A NECESSÁRIA PUREZA ENTRE NAMORADOS

  
  Evidentemente, a primeira razão para se guardar a castidade no namoro é observar o sexto mandamento, evitando o pecado mortal e sua consequente perda da graça. Nossa razão reconhece e Deus nos ensina que a união entre um homem e uma mulher deve ter em vista a procriação. Todavia, não basta a procriação, pois é preciso também educar a prole. Para educar bem os filhos, é preciso que haja o matrimônio. Portanto, a união entre o homem e a mulher deve se realizar somente dentro do casamento, para que a primeira finalidade dessa união seja assegurada de forma adequada.

  A segunda razão para que os namorados mantenham a castidade é com a finalidade de que façam uma boa escolha, uma escolha realmente lúcida e livre. Um dos fatores que mais arrastam o nosso reto juízo, desviando-o da adequação à realidade, são as paixões desordenadas. Quando julgamos afetados por essas paixões, nossa inteligência e nossa vontade são como que arrastadas a julgar em conformidade com tais paixões. Portanto, a falta de castidade entre os namorados vai conduzi-los a julgar não conforme à realidade, mas conforme às paixões. Eles não conseguirão considerar adequadamente a estima mútua, a simpatia, a confiança e o acordo sobre o ideal que devem ter. Eles tenderão a julgar simplesmente seguindo a inclinação dessas paixões desregradas. Em virtude das paixões, ele quererão permanecer juntos e tenderão facilmente a julgar que todas as condições que mencionamos na segunda parte estão presentes, ou não darão a devida importância a essas condições.

  Não queremos dizer aqui que toda paixão é desordenada, o que seria um erro grave, cometido entre outros pelos estóicos. Queremos dizer que uma paixão que não é subordinada à razão, uma paixão que não é dirigida e ordenada pela razão é ruim e pecaminosa e afeta os nossos juízos. Assim, ter o desejo de comer e de comer muito e satisfazer esse desejo é excelente, se realmente precisamos comer. Ter o desejo de comer muito sem ter necessidade é um desejo que deve ser freado pela razão, para que não se caia na gula. Ora, quando agimos contrariamente à razão com frequência, criamos na nossa alma uma inclinação para agir dessa maneira, e nos alegramos com esse modo de agir. Nós tendemos fortemente a julgar segundo as nossas inclinações, tendemos a julgar de modo que nossas inclinações sejam favorecidas. Se nossas inclinações são ruins, julgaremos mal. Se são boas, ordenadas pela razão, julgaremos bem, seguindo a razão.

  Dessa forma, quando os namorados que não guardam a castidade forem julgar a propósito da real chance de construírem uma família católica sólida e feliz, eles dificilmente julgarão com precisão a propósito das quatro condições citadas, mas julgarão pela continuidade do relacionamento porque, com a continuidade, ficam favorecidas as paixões.

  A falta da castidade no namoro, além de se opor ao sexto mandamento, dificulta a construção de uma família católica sólida e realmente feliz pelo fato de que dificilmente considerarão bem: 1) se existe uma real estima pelo outro, fundamentada em verdadeiras qualidades (naturais e sobrenaturais) dele; 2) se a simpatia é real ou se ela se resume ao aspecto físico ou sensível; 3) se realmente o outro é alguém confiável e 4) se estão realmente de acordo no que toca à perspectiva cristã da vida e do matrimônio. A castidade é indispensável para assegurar uma boa escolha, que é, por sua vez, necessária para construir um lar católico.

  Se os namorados caem no pecado contra castidade devem corrigir-se o quanto antes, a fim de assegurar o estado de graça, evitar o inferno, e a fim de assegurar uma escolha feita pela razão guiada pela fé e caridade. Somente uma escolha feita assim poderá assegurar um bom casamento católico, um casamento feliz.

Pe. Daniel Pinheiro, IBP

sábado, 21 de março de 2015

NAMORO CATÓLICO - 2ª parte: FINALIDADE DO NAMORO


O Reverendíssimo Padre Lodi diz que a finalidade do namoro é “o conhecimento da alma do outro.” Esse conhecimento da alma é conhecer as qualidades e defeitos, naturais e sobrenaturais, do outro, bem como conhecer qual é o “ideal” de vida do outro. Todavia, as condições para que um jovem e uma jovem possam construir com segurança um lar católico são quatro:

1. Uma grande estima mútua;
2. Uma profunda simpatia mútua;
3. Uma profunda confiança mútua;
4. Acordo quanto ao ideal.


A finalidade do namoro deve ser verificar a existência dessas quatro condições ou desenvolvê-las. O que segue é baseado na obra do Padre François Dantec, Fiançailles Chrétiennes.

1. Estima mútua.
A estima é reconhecer no outro certas qualidades e certos valores reais e apreciar de modo particular essas qualidades e esses valores. Essa estima deve ser, portanto, motivada, ela deve ter um motivo real e ser séria, e não ser baseada em impressões ou sentimentos. Essa qualidade e esses valores nada mais são do que as virtudes. Eis aqui o verdadeiro título de nobreza e o tesouro mais precioso para que um lar digno seja fundado. Antes de escolher o cônjuge, é preciso prestar atenção nas suas qualidades morais, naturais e sobrenaturais. Se há um defeito grave e de difícil correção no outro, não se deve hesitar em romper o relacionamento. Se, ao contrário, constata-se a presença das virtudes no outro, a estima pode ser dada ao outro. Essa estima é o primeiro passo para o verdadeiro amor entre os que querem se casar.

2. Simpatia. 
A simpatia aqui quer dizer uma certa inclinação ao outro. Em geral, ela decorre da estima de que falamos acima. Assim, também a simpatia deve ser motivada. Todavia, pode haver casos em que há estima sem que haja a simpatia. Os sinais dessa simpatia são o desejo de rever o outro, a alegria de se encontrar e de conversar juntos, ter o pensamento inclinado para o outro, preocupar-se com os problemas e preocupações do outro, etc… Convém deixar claro que essa simpatia não é uma atração sensível ou física. É necessário para noivar e casar que haja atração entre os dois, mas uma atração como a simpatia que descrevemos acima. Não é necessário que haja uma atração física, sensível, que faça o coração palpitar. Isso é de uma importância prática extrema, pois nada há de mais instável e variável que a sensibilidade e essa inclinação física. A pretensão de construir o lar sobre uma base tão instável é viver na ilusão e construí-la sobre a areia. O casamento vai desmoronar. O matrimônio precisa ser baseado na estima motivada e na simpatia que deriva dessa estima, em virtude das qualidades morais reais do outro. Está claro que a inclinação física e sensível não é em si um mal e pode ser um bem, desde que não levem a pessoa a tomar decisões baseadas nelas. Se essa inclinação física e sensível está ausente, mas estã presentes a estima, a simpatia e as outras condições de que falaremos, os jovens podem se casar com confiança. Se a simpatia mútua está ausente, é muito imprudente casar. Essa ausência de simpatia pode acontecer mesmo entre um jovem e uma jovem católicos e virtuosos. Seria muito imprudente casarem sem ter simpatia um pelo outro ou tendo antipatia pelo outro. Também seria imprudente casarem se houvesse alguma espécie de repugnância física pelo outro. A graça baseia-se na natureza. Se no campo natural existem fatores que desaconselham o matrimônio, seria difícil que a graça suprisse tais problemas. Qualquer que seja a causa dessa antipatia, consciente ou inconsciente (incompatibilidade de temperamento, diferença de idade, de cultura, etc.), trata-se de uma contra-indicação seríssima ao casamento, pois seria expor-se mais tarde a provações muito frequentes e muito fortes, com risco para o casamento.

3. Completa confiança mútua.
Além da estima e da simpatia, é preciso que haja confiança, para que haja um casamento feliz. É preciso que a outra pessoa seja digna da confiança, que seja possível ter certeza quando ela diz algo. Essa confiança é também ter certa segurança e estabilidade, fundada nas qualidades reais do outro. Além disso, essa confiança é ter por certo que é possível se apoiar no outro para enfrentar as dificuldades, as provações, os sofrimentos. A vida matrimonial é completamente distinta da vida anterior: o cônjuge já não está mais só. No melhor e no pior, na riqueza e na pobreza, na saúde e na doença, é preciso ter a certeza de poder contar com o outro. Para casar, os namorados/noivos devem ter essa confiança profunda no outro. Essa confiança é motivo de muita força e alegria para a vida do casal. Essa confiança mútua tem também o sentido de que um cônjuge se confia ao outro, quer dizer, que não guarda segredos para o outro. Claro que há graus e etapas nessa abertura mútua. O essencial é que um esteja à vontade com o outro (no bom sentido), para confiar ao outro tudo o que vale realmente a pena e para contar tudo o que seria desleal ou imprudente esconder.

4. Acordo quanto ao ideal. 
Um ponto fundamental para escolher o futuro cônjuge é o acordo sobre o ideal. Sem essa condição essencial que é esse acordo quanto ao ideal, a futura família não tem praticamente qualquer chance de formar um lar verdadeiramente cristão e verdadeiramente feliz no sentido cristão de felicidade. Sem um considerável acordo quanto às principais questões da vida, seria impossível manter a união de corações e de almas, união necessária para que haja verdadeiro amor cristão.

A. O que não é esse acordo. Esse acordo não é partilhar necessariamente as mesmas ideias sobre todas as coisas nem ter o mesmo gosto em todos os domínios. Esse acordo não suprime, portanto, diferenças que são legítimas e, por vezes, providenciais. Esse acordo não significa uma uniformidade total ou a supressão de personalidades. Também não é necessário que exista, desde o começo, um acordo perfeito das ideias e sobre todos os detalhes da vida prática.

B. O que é esse ideal? Esse ideal é uma certa comunhão de visão e de juízo quanto ao sentido da vida e sobre os grandes problemas da vida conjugal. Na prática, esse acordo consiste em saber se as duas partes aceitam a doutrina católica em geral e sobre o casamento em particular. Para se interrogar sobre esse acordo e poder avaliar a sua existência, é preciso que os namorados se perguntem se são verdadeiramente católicos ou não.

C. Acordo quanto ao sentido cristão da vida. Como fundamento, os que pretendem casar devem estar de acordo quanto ao sentido cristão da vida. O sentido cristão da vida é dado, antes de tudo, pela profissão firme da fé, com plena aceitação dos ensinamentos de Cristo e da Igreja. Esse acordo consiste em que ambos saibam que essa vida é tão somente uma passagem para a vida futura, que fomos criados para sermos felizes no céu, depois de termos conhecido, amado e servido a Deus aqui na terra. Esse acordo consiste em buscar em primeiro lugar o reino dos céus, evitando todo pecado como o maior mal que existe. Além disso, esse acordo deve ter em vista também a busca da prática das outras virtudes, além da fé, da esperança e da caridade: a humildade, a paciência, a fortaleza, a pureza… Esse acordo deve consistir no fato de reconhecer que essa vida é um combate, em reconhecer que somos discípulos de um Mestre que morreu crucificado e que nós não somos maiores que Ele. Esse acordo deve consistir no reconhecimento de que somente a verdadeira religião revelada por Deus pode nos salvar e trazer a solução para os nossos problemas. Esse acordo consiste na disposição firme de permanecer fiel a Cristo e à Igreja, apesar de todos os desvios e ciladas do mundo. Esse ideal sobre o qual os namorados devem estar de acordo é, em resumo, a conformidade em todas as coisas com a vontade de Deus.

D. Acordo quanto ao sentido cristão do casamento. Se o acordo deve dizer respeito a todas as questões importantes da vida, é evidente que ele tem que se estender especialmente ao casamento. Basta refletir um pouco e superficialmente para chegar à conclusão que a falta de acordo nesse domínio levará a um lar infeliz. Não deixar jamais passar esse ponto, como se pudesse ser resolvido depois. Depois, será tarde. É preciso perguntar-se seriamente, com lucidez e coragem, se o acordo existe quanto a esse ponto. O acordo deve ser sobre:

i. O dever de fecundidade. Estão de acordo quanto àquilo que é o primeiro dever do matrimônio? Estão de acordo com a doutrina católica quanto à generosidade no número de filhos? Estão de acordo quanto ao fato de que é pecado mortal evitá-los pelos denominados métodos artificiais? Estão de acordo que os métodos naturais só podem ser usados sem culpa se houver uma causa grave para isso?

ii. Dever de educar catolicamente os filhos. Estão de acordo no que toca ao grave dever de assegurar a educação católica dos filhos?

iii. Dever de amor mútuo. Estão de acordo quanto ao sentido cristão desse amor mútuo, que é, antes de tudo, um amor derivado da caridade, que quer o bem do outro e age para o bem do outro, sobretudo para a salvação dele? Estão de acordo em sacrificar bens materiais, para assegurar os deveres matrimoniais, se necessário? Estão convencidos de que a vida comum é a regra e de que uma vida separada só pode ser cogitada em função de razões excepcionalmente graves?

iv. Dever de fidelidade e natureza indissolúvel do matrimônio. Não custa lembrar esses dois pontos. Estão de acordo que o matrimônio é uma união exclusiva entre eles e que essa união não pode ser desfeita, a não ser pela morte de um dos cônjuges?


E. No caso de desacordo grave. Se um acordo suficiente não existe – e não há nenhuma esperança séria e fundada de que ele possa existir – é preciso tirar as conclusões que se impõem. Essa esperança diz respeito ao tempo de namoro e não ao tempo de casado. Seria enormemente imprudente casar esperando que esse acordo venha a existir, seria um erro quase certamente fatal. No caso de desacordo grave quanto ao ideal, é preciso cortar imediatamente as relações que levariam certamente a um casamento infeliz e cheio de problemas de consciência. Esse desacordo grave pode ser religioso porque o outro é anticristão, ateu, indiferente à religião, ou porque ele é cristão, mas não é católico. Nesse caso, o desacordo é evidente. Esse desacordo existe também quando o outro é um católico profundamente medíocre, colocando toda a sua felicidade aqui na terra, recusando todo esforço sério moral e espiritual, fechando-se aos chamados da graça. Esse católico profundamente medíocre é aquele que se tornou incapaz de compreender e de apreciar todas as formas de sacrifício, de grandeza e de desapego dos bons cristãos. Trata-se do cristão tíbio. Ele pode ter certas qualidades humanas, talvez brilhantes, mas seu cristianismo não tem praticamente nenhuma influência em sua vida. Ele não vê as coisas com os olhos da fé. É preciso prestar muita atenção nessa mediocridade ou tibieza, que muitos não levam realmente a sério na hora de tomar uma decisão. Diante da mediocridade do outro, é preciso romper a relação. A infelicidade seria certa, bem como os problemas de consciência e a falta de um amor realmente cristão. Tais conselhos podem parecer duros, e eles o são, de fato. Todavia, deixar de dizer essas verdades salutares seria servir muito mal as almas, seria uma aparente caridade contrária à verdadeira caridade.

F. No caso de acordo. Se esse acordo é praticamente completo e se as outras condições estão presentes (estima, simpatia, confiança), trata-se de uma graça imensa. É normal e desejável que busquem tal acordo e que não negligenciem nada para chegar até ele. Esse acordo será, normalmente, a garantia de um lar verdadeiramente feliz, radioso. Com frequência, porém, esse acordo não será completo, pois talvez o outro não tenha a generosidade desejada. Todavia, essa falta de generosidade nunca pode chegar ao ponto da mediocridade ou da rejeição da fé católica. Além da fé e de um certo fervor, é preciso que se exija também um mínimo de virtudes naturais, tal como a lealdade, a sobriedade, a retidão, a coragem, a mansidão, etc… Com isso, embora não haja um acordo completo, é possível esperar um casamento em que os cônjuges possam pouco a pouco se santificar, a não ser que a parte menos católica seja aquela com a personalidade mais forte. Para casar sem ter esse mínimo de acordo sobre o ideal seria preciso haver razões bem graves, o que é raro.

Pe. Daniel Pinheiro, IBP